Pink Demon

Um espaço para auto-reflexão, mimimis adolescentes e falta do que fazer

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

A Little Piece of Hell

É tragicômico como tanto tempo depois eu voltei a escrever aqui. Este blog possui um texto para cada pessoa diferente. Algumas foram pequenas decepções, outras quebraram meu coração.
E depois de tudo que aconteceu, eu me vejo perdoando todas elas, menos você. Entenda: é recente demais.
A última pessoa pra quem escrevi palavras de rancor aqui, eu ainda tinha a esperança que me stalkeasse e encontrasse as postagens, mas você é a mais pura representação do vazio. Eu o deletei da minha vida porque não quero passar meses num ritmo de cura falho. Eu não vou jogar fora tudo agora, mas também não segurarei tudo para sempre. E pensar que você nunca mostrou interesse nesse blog, como em várias outras coisas da minha vida.

Eu admito que a dor ainda é grande. Há semanas que não durmo bem, mas já parei de toda quarta-feira pensar em como tudo foi naquela noite que você falou que estava me deixando, sem nem me dar grandes motivos.

Você me reduziu como pessoa e como alguém que poderia ter algum significado pra você em nada. Colocou as coisas ruins acima de tudo e até o último minuto fez questão de me machucar com ilusões do tipo "Eu nos via anos a frente, mas agora não quero mais".

Você me deixou numa das piores fases da minha vida, colocando meus demônios como o motivo, ao invés de ficar ao meu lado e apoiar. Eu compreendo que ninguém deve ser obrigado a lidar com os problemas de outra pessoa, mas eu também não sou obrigada a compreender ações imaturas de alguém que no fundo não se importava comigo.

Muitas vezes você me falou que eu sentia e enfrentava as coisas da forma errada, mas nunca se colocou no meu lugar e jamais parou para refletir sobre o que eu lhe questionava e pedia. No final, quem se estressava com qualquer situação era você, mas até o final você não pode enxergar isso.

Cansei de me sentir como não merecedora. Como alguém difícil de amar. Percebi que nunca mais devo me sujeitar a mendigar amor, nem ficar esperando por alguém que não tem as mesmas intenções que eu.

Ainda assim, sinto muito sua falta. Tudo me lembra de você e essa dor no peito me atinge inúmeras vezes ao dia. Em vários momentos gostaria de ir falar contigo. Te marcar em uma postagem que lembrei de você, te falar que vi hoje na rua uma mulher muito parecida com a sua mãe, tirando as roupas justas e o cabelo cacheado. Eu gostaria de lhe mostrar os avanços que fiz nas últimas semanas, mesmo imersa em toda a escuridão que você e outros acontecimentos da vida me deixaram. Mas a escuridão nunca foi um problema pra uma estrela, então eu vou sobreviver à tudo isso.

É irônico que a música que você me apresentou naquela noite, que você alegou estar apaixonado por mim, tenha trechos que se encaixem tão bem nesse dueto de corações desencontrados.

'Cause you were all up in a piece of heaven
While I burned in hell
No peace forever


Eu poderia esperar fazer a mesma vingança que ela fez na música, mas eu sei que eu tenho que lhe deixar ir. É o melhor para nós dois.


segunda-feira, 18 de abril de 2016

Um pedido de desculpas à todos os amores que não tive

Se você procura significados ocultos e poéticos, ou espera usar esse texto como forma de conhecimento sobre mim, você já está em perigo. 

Fique tranquilo, sua mente está imaculada, a verdade é que:

                                                                             Nessa linhas jazem porções de egocentrismo e autoconfiança, desprezo e uma pitada de conflito.


Eu não sou a garota dos seus sonhos.
É mais fácil que eu roube o seu sono com conversas excêntricas durante a madrugada, ou que atormente seus pensamentos sobre o possível motivo de não responder uma mensagem que visualizei há oito horas atrás. 

É bem provável que haja uma cortina de expectativas conectando nossos mundos. Tantas diferenças sendo mascaradas pela escuridão que vestimos na pele. Pura ilusão pintada com a ominosidade que cultuamos como uma expressão de nós mesmos. 
Um mundo de cores neutras que confunde nossos limites e ideais, e que mede a nossa tolerância.


Você conseguiria me suportar?
Ou quem sabe eu seja um caso complicado demais para você. Há tantas opções mais convenientes e acessíveis, que podem trazer mais felicidade do que toda confusão que eu trago comigo. 

Sempre fui o tipo de protagonista teimosa e incompetente, que falha em suas missões de resgate e afunda aqueles que a seguem por essa jornada. 

Eu
penso
demais

Sou puro caos.
                             Tempestade em um pequeno corpo d'água. 

                                                                                                                  falta
de
sentido
                                                            é
                       um
dos                                                                                                       meus
                                                                                                                                    passatempos
favoritos.

Eu sinto demais, e sou especializada em fingir que deixo tudo aparecer. 
Melhor ainda: sou formada e fingir que escondo tudo muito bem. 

Sinto muito por gerar o simples pensamento sobre o que poderia acontecer. Pelos olhares que não foram trocados, ou pelas palavras que não foram ditas.

Neste texto jaz a nossa história que jamais foi escrita. Adeus. 

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Cheia

Odeio a pretensão imposta pela paixão à primeira vista.
Eu não entrarei no clássico discurso sobre querer que as pessoas me enxerguem além das aparências, mas realmente enche o saco a forma como grande parte parece acreditar que as coisas funcionam.
Odeio os compromissos que costumam acertar com o destino, a forma como se iludem com pequenas coincidências e a força que colocam em expectativas que podem não ser correspondidas.
Existe uma receita para acessar o coração de alguém?
Vai saber.
Não importa sua aparência ou as palavras que você escolhe. Tudo está na questão de ser capaz de tocar o interior da pessoa de alguma forma. Um encontro como se suas almas se cumprimentassem por causa de uma pequena ideia em comum. É como se apaixonar de olhos fechados, sendo guiada apenas pela essência e pelo toque. De forma sutil, aos poucos, sem pressa, com a empolgação como recheio e a ternura como cobertura.

Depois de muito tempo eu percebi que o que eu sinto, na verdade, não é um vazio. No final das contas eu estou cheia. Tão cheia que chego a transbordar. E todo o mal estar é por causa da impotência que sinto ao ver tudo sendo derramado pelo chão, se perdendo, sem ninguém poder beber do que eu gostaria de oferecer. Amar demais a vida dói tanto quanto a ausência do amor.

Acho que depois de tudo isso, eu finalmente entendi o que queriam dizer quando falavam que às vezes dar é melhor do que receber, ou que amar pode ser melhor do que ser amado. Mas tudo isso parece exagerado demais, escrevendo dessa forma.
Eu poderia citar e fazer uma analogia com o mito das almas gêmeas, mas não quero por um teor romântico nesse texto. Ele é mais sobre mim do que sobre algum alguém que possa aparecer.
É sobre amar o agora e não me iludir com qualquer distração que possa aparecer. Quem sabe seja sobre o nada que eu acreditava carregar. Ou talvez seja sobre o tudo que eu descobri que há dentro de mim.
É sobre o que eu finalmente percebi que mereço, e como devo interpretar aqueles capazes de me oferecer isso.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Pane no sistema

Eu finalmente percebi que até hoje jamais fui verdadeira com esse blog. Todos os desabafos e fatos sobre mim sempre foram cuidadosamente digitados, revisados e pensados exclusivamente na visão de outra pessoa.
Essa outra pessoa não é um alter ego, e sim apenas uma alegoria para representar os olhos e os julgamentos dos demais.
Por mais que eu saiba que o acesso a esses textos seja limitado (por escolha própria), eu sempre ponderei o conteúdo e a forma com que ele seria exposto aqui. Acho que como todo o resto das coisas que eu tento fazer, esse blog é mais um exemplar do quão robotizada eu sou.
Bem, o futuro está aqui. Eu sou real. Artificialmente ou não.

Ta, mas e daí?

Eu também não sei o "daí". Eu poderia fazer o discurso sobre parar com essa conduta, sobre escrever coisas apenas para mim, mas eu nunca fui o tipo de escritora que guarda suas obras na gaveta.

sábado, 2 de maio de 2015

Um relatório sobre as lágrimas das últimas semanas

Durante essas últimas semanas, a melancolia me permitiu refletir sobre muitas coisas que eu acreditava já ter total conhecimento e controle. E novamente, fui enganada pelo meu orgulho.
Eu repeti diversas vezes, para o mundo e para mim mesma que gostaria de nunca ter ido a certo lugar, ou conhecido certa pessoa. Porém, eu sempre levei em conta o fato de que até os menores males geram boas coisas. E apesar da ferida ainda estar em processo de cicatrização, eu pude aprender algumas tão importantes. 

Acho que no meio da bagagem que eu adquiri, o mais importante foi perceber que eu devo sempre esperar e exigir mais. Nada de frases clichês de livros falando sobre como nós aceitamos o amor que achamos que merecemos, ou sacrifícios em pró de alguém que não ajuda a si mesmo. Provavelmente essa última parte é o ponto principal do meu aprendizado. 

Você nunca será feliz com alguém enquanto não estiver feliz com o que VOCÊ tem para oferecer para si mesma. Por mais que a relação vá bem, a queda do final será colossal se você não estiver preparada. E isso inclui se respeitar, valorizar e enxergar tudo o que você pode fazer e merece ter.
Eu não posso descartar tudo que sinto de uma hora para a outra, mas também não posso ficar remoendo tudo eternamente. 

Eu sempre andei no escuro porque sou uma estrela e tenho luz própria. Eu não preciso de uma luz externa para continuar, mas e você? Mal consegue enxergar a própria claridade que emana, apesar de tudo. 

Eu poderia ter sido o seu tudo. Eu tentei, fiz a minha parte. Eu não acho mais que "não tenha sido o bastante". O problema nunca esteve do meu lado e eu demorei algum tempo para parar de tentar legitimar essa possibilidade. Eu também ofereci uma bandeira branca e não obtive qualquer resposta. 
Conflitos todos temos. Chutar tudo para o alto e se trancar com os seus não vai resolver nada. É bom você se forçar a lidar com as pessoas enquanto isso, as coisas aos poucos vão melhorando, mesmo que você demore para perceber.  

Eu despertei a tempo para algumas coisas que aconteceram no passado. Quando você veste a pele, finalmente descobre como o outro lado se sentiu em certa situação, e eu percebi o quão você eu fui (leia-se idiota). Tal episódio também abriu meus olhos para que eu não machuque mais ninguém da mesma forma que você fez ao fugir. 

Por mais difícil que seja enxergar as coisas dessa forma, esse texto não deveria ter tom de rancor. Por mais que eu quisesse ter raiva de você, eu não consigo. Eu ainda tenho um afeto muito grande por você, mas o que eu nutro por mim mesma é maior. Se afastar daqueles que querem seu bem é bem estúpido. Sofrer por alguém que não se importa mais com você, é mais ainda.

É uma pena que você esteja demorando para despertar sobre isso. Quando acontecer, talvez será tarde demais. Apesar disso, eu lhe desejo sorte. Eu ainda estarei aqui, mas não eternamente. Na verdade, eu aos poucos estou partindo. 


I've been hating everythingEverything that could have beenCould have been my anythingNow everything is embarrassing

quarta-feira, 18 de março de 2015

Amor x Vodka


Corações desiludidos adoram usar a frase "Amor? Eu prefiro Vodka" e idolatrar bebedeiras como óbvias substituições para relacionamentos, mas não é tudo a mesma coisa?

Se apaixonar é como tomar um porre de vodka.
Acontece aos poucos, às vezes misturado com alguns ingredientes, fazendo você perder a noção da situação e o controle das coisas.
Quando você percebe, pronto. Está bêbado/apaixonado. Entretanto, quando a ficha finalmente cai, não tem mais volta: você está ferrado.

Aí então vem uma série de sentimentos e sensações característicos da embriaguez:
Parece que você pode fazer tudo, e que os problemas são pequenos e insignificantes, ao mesmo tempo que alguns dilemas se amplificam e você sente vontade de chorar pelas mínimas coisas. Passa a ver o mundo de outra forma  Você sente tontura, borboletas no estômago, perde a noção de espaço e tempo. Se esquece de algumas coisas, dá demasiada atenção para outras, ignora conceitos relevantes e se perde em pequenos detalhes.

Quando há algum deslize e exagero no processo, a amargura na boca e a dor de cabeça são inevitáveis no dia seguinte. Existem riscos, e acidentes podem ocorrer, machucando você e quem estiver perto.
Algumas vezes, tais situações caminham juntas e justificam a existência da outra. Afinal, quem nunca bebeu por causa do amor, e quem nunca "amou" por causa da bebida?

Bêbada ou apaixonada, entre os dois vícios, não consigo decidir qual é o mais prejudicial, afinal, ambos deixam a sensação de quero mais e pequenas grandes marcas em nossos corpos.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Blog parado, inutilidades e coisas que você não precisava saber sobre mim.

Eu estou de férias ♥
Mas sem qualquer inspiração pra escrever.
Então, para não deixar o blog parado, vou postar umas coisas bem inúteis e bobinhas, mas que eu achei super legais. São os tipos de correntes que espalham pelo facebook, mas como eu não gosto de ficar marcando pessoas nessas coisas ou poluindo meu perfil com informações desnecessárias e que ninguém quer saber, eu vou postar aqui porque... o blog é meu ♥
Acho que darei um caminho diferente a esse blog e postarei coisas além dos textos e mimimis.
Bem, vamos com as correntes

A primeira corrente que eu vi esses dias é o chamada de perfil Chinês. Uma coisa que eu notei, é o fato das pessoas responderem com aquilo que gostam, ao invés de usar aquilo que realmente as descrevem. Usarei o segundo caso, mas tenho mais de uma resposta para um só item. É impossível ser tão unilateral em vários conceitos. Eu deletei alguns itens, por não conseguir responder. Enfim, vamos lá

Se eu fosse uma cor: Azul Marinho

Se eu fosse um animal: Borboleta

Se eu fosse um livro: Orgulho e Preconceito   

Se eu fosse uma musica: Celmisia – Kanon Wakeshima, Primadonna – Marina And The Diamonds 

Se eu fosse um personagem fictício:
 Lestat de Lincourt, Oosaki Nana

Se eu fosse um País:
 Inglaterra 

Se eu fosse um filme:
 Nana

Se eu fosse um instrumento musical: Cravo

Se eu fosse um objeto: Livro 

Se eu fosse uma joia:
 Lápis-lazúli 

Se eu fosse um dos sete pecados capitais: Vaidade

Se eu fosse uma estação: Outono

Se eu fosse um verbo: Conquistar

Se eu fosse um elemento:
 Ar  

Se eu fosse um sentimento: Orgulho 
 Se eu fosse uma planta: Rosa 

Se eu fosse uma bebida:  Licor


Bobinha mas legal, faz você pensar sobre quem é e o porquê de ser desse jeito. 

A segunda corrente... 

O Wueslle me marcou numa postagem dele denominada "Minha vida de acordo com..."

Usando nomes de músicas apenas de um artista ou grupo, tente habilmente responder a essas perguntas. Passe para 25 pessoas que você gosta. Tente não repetir um título da canção. É muito mais difícil do que você imagina! Repost como "minha vida de acordo com " 

Siga estas simples instruções: Vá em "notas" com abas em sua página de perfil, cole as instruções no corpo da nota, escreva o seu título como "Minha vida de acordo com (nome da banda), apagar as minhas músicas e introduzir as suas respostas, tag n pessoas, incluindo eu (marcação é feita no canto direito da APP), em seguida, clique em Publicar.

Bem, eu simplesmente amei essa corrente então resolvi fazer com a minha banda favorita: Versailles Philharmonic Quintet.



Minha vida de acordo com Versailles 

Você é homem ou mulher? Princess
Descreva-se: Antique in the Future
Como você se sente: Amorphous
Descreva o local onde você vive atualmente: Edge of the World
Se você pudesse ir a qualquer lugar, onde você iria God Palace (Method of Inheritance)
Sua forma de transporte preferido? Glowing Butterfly
Seu melhor amigo: Silent Knight
Você e seus melhores amigos são: Zombie(s)
Qual é o clima: After Cloudia
Hora do dia favorita: Threshold
Se sua vida fosse um programa de TV, como seria chamado? The Revenant Choir
O que é vida para você: Catharsis 
Medo: Thanatos
Qual é o melhor conselho que você tem a dar: Remember Forever
Pensamento do Dia: To the Chaos Inside
Meu lema: Love will be born again

 Consegui respostas quase perfeitas com os títulos ♥





segunda-feira, 28 de abril de 2014

O Quebra-Cabeça


Nossos corações são quebra-cabeças incompletos e indefinidos. Estamos constantemente procurando pelas peças que faltam, pelas beiradas, desvendando o desenho e tentando preencher o vazio que nos toma.

Nossas ações formam uma peça extra.

Dependendo de nossas relações, as beiras das peças acabam se desgastando ou entortando, perdendo a capacidade de se encaixar com as outras.

Ainda assim, é possível que o outro lado de uma das peças expanda o quebra-cabeça, trazendo inusitados encontros para essa procura.
Talvez seja esse o motivo de pessoas tão parecidas entrarem em nossas vidas de maneiras e em momentos diferentes. Sempre há um tipo de peça que preenche a área central e é esse tipo de peça que desesperadamente buscamos para conter as dores, ansiedades e amores que guardamos.

Mas o maior erro que cometemos é pensar que a peça extra que criamos é a chave para tudo. Esta peça não serve para completar o próprio enigma, e sim o de outra pessoa.
Desse modo, muitos perdem o jogo, acreditando que receber é muito mais importante do que dar e pensando que apenas uma peça é a chave para a resolução.
Você já achou todas as peças do seu quebra-cabeça?
Tem certeza?

segunda-feira, 14 de abril de 2014

O clichê



O clichê entre a dor e o amor está na rima das palavras. No complemento entre uma e outra. Está no apreço que temos por ambos.

O clichê entre a dúvida e a entrega está no contraste das ações. Nas consequências dos atos. Está na confusão que fazemos.

O clichê entre a negação e a saudade está nas noites sem você. No medo vivo entre os dois. Está na culpa que sentimos.

O clichê entre o sentimento e a ilusão está em sua própria existência. Na essência dos termos. Está em nossas palavras.

O clichê entre você e eu está no que me impulsiona a escrever. Na rima, no complemento, no contraste, nas consequências, nas noites, no medo, na ilusão, na existência e na essência.

Está na confusão, na vontade, na contradição, na verdade, no momento, no exagero e na coragem.


Quando tudo deixará de ser clichê para virar realidade? 

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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Lanterna dos Afogados

   

     Em uma floresta, perto de um lago, era possível encontrar uma alma aflita.  O jovem, que vagava por tal área, carregava insanas visões junto de si, buscando a paz que foi tirada de seu alcance há muito tempo.
     Era difícil enxergar mais de um metro á sua frente por causa da neblina que se espalhava por todo o local. O som de seus passos eram abafados pela lama e pelo lodo que cobriam o caminho até as margens do lago e o barulho dos insetos noturnos se sobrepunha a sua respiração.
     As lágrimas que desciam por sua face pareciam se fundir com a noite úmida. Os soluços que saiam de seu peito o sufocava aos poucos, tornando sua respiração mais difícil a cada passo.
     Quando ele finalmente enxergou um rastro de luz verde, alguns metros na sua frente, seu coração acelerou e uma série de lembranças tomou sua mente.
     Sua vida ainda estava no começo. Ele mal tinha vivido durante duas décadas e ainda assim carregava tal perturbação e instabilidade dentro de si, desde que tudo aconteceu. O pobre rapaz não tinha mais motivos e nem forças para viver. Tudo havia desabado desde a morte dela, desde aquela sombria noite de verão. Até esse momento, ele não havia pisado naquele lugar novamente, temendo ser assombrado pelos fantasmas daquele dia. Porém, o que ele mais temia estava deixando-o louco.
     Ambos tinham quinze anos, eram inocentes, inconsequentes e corajosos, procurando aventuras e desafios que apenas o vigor de sua juventude poderia superar. Tal sede pelo desconhecido os levou para aquele lago, onde acreditava-se que uma simples lanterna sugava a alma daqueles que desbravavam suas águas.
     Obviamente, no começo, ambos acharam a história estúpida, afinal, como poderia um simples objeto sugar a essência humana?
     Portando apenas lanternas e suas roupas de banho, os dois jovens foram até o lago, esperando vencer mais um desafio, ter seus egos inflados, sua sede por aventura saciada e sua noite preenchida com diversão nas águas negras do lugar.
     Ao chegarem no pequeno cais de madeira, eles notaram a presença da suposta lanterna, uma luz esverdeada no meio do lago, que parecia flutuar sobre a água, mas deveria estar em um mastro ou uma boia.
     Sendo exímios nadadores, nenhum deles viu qualquer problema em se arriscar em um local desconhecido, mesmo estando de noite. E, é claro, que em momento nenhum eles levaram em conta as antigas histórias sobre aquele parque abandonado.
     Tudo havia acontecido tão rápido que sua memória falhava em trazer de volta as imagens de como tudo tinha ocorrido. Talvez porque é impossível se lembrar de algo que você não tenha visto.
     De um momento para o outro, ela havia sido engolida pelo lago, seu corpo havia sido arrastado para suas profundezas, sendo encantado pela luz verde, e não houve maneira de salvá-la. Aquilo foi apenas um acidente, mas acidentes não perturbam pessoas daquela forma, ou perturbam?
     Seu riso estava por todos os lugares, seu toque o acariciava junto com o vento e sua voz ecoava em sua cabeça. Sua face o visitava todas as noites durante o sono, o chamando para seu encontro na lanterna dos afogados.
     Tudo isso havia destruído sua vida e o transformado em uma pessoa desprezível, que por algum milagre ainda sobrevivia em seu patético mundo. Sem qualquer razão para viver na loucura, ele finalmente decidiu atender ao chamado daquela que ele um dia amou.
     Ele sabia que a alma de sua namorada estava aprisionada naquele lugar, sofrendo com a sua morte precoce e procurando por uma luz pura. Assim, ele faria o que fosse possível para ajudá-la.
     Após ser guiado pela voz da garota em suas lembranças, ele chegou até as margens da água, finalmente podendo vê-la depois de tanto tempo.
     Como se esperasse por ele, lá estava a figura de sua amada, da mesma forma desde a última vez que ele a viu. Porém, para o desespero do rapaz, seu sorriso havia sido substituído por uma face triste, pálida e desgastada, levemente inchada por causa da água e com seus cabelos escorrendo de forma bizarra sobre seus ombros.
     Ele se sentia tão culpado por aquilo. Se não tivesse concordado com aquela idiotice juvenil, se ele tivesse tomado conta dela... Se eles jamais tivessem pisado naquele parque, ela ainda estaria junto com ele. Era doloroso vê-la daquela forma. Aquilo o perturbava mais do que qualquer alucinação que tenha tido nesses últimos cinco anos.
     Mesmo beirando a insanidade, ele sentia que era seu dever tentar libertar a alma da garota que morreu ali.
     Tomando coragem, ele encarou o triste espírito, tentando manter-se firme.
 O que é preciso para que você encontre paz?  ele perguntou, tremendo, contra sua vontade, por causa da presença pálida em sua frente.
     O rosto do fantasma de contorceu em uma mistura de felicidade e agonia. Aquela não era mais quem ele havia conhecido, mas sua voz permanecia a mesma.
 Ter você eternamente ao meu lado  respondeu o espírito de sua amada, estendendo sua mão.
     Atônito com o brilho levemente verde que o espírito da garota tinha, o rapaz começou a entrar no lago, preparando-se para abrir mão de tudo de uma vez por todas. Ele não podia pensar em mais nada além da luz que parecia sair de dentro do espírito.
     Assim, o jovem caminhou em direção à lanterna, afundando cada vez mais sob a luz esverdeada, responsável por absorver as almas daqueles que eram tolos o bastante em ver alguma beleza nela.



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Desde a primeira vez que ouvi o título e a letra dessa música, quando eu era pequena, algo soou terrivelmente assustador para mim. Por mais que o próprio Herbert Vianna já tenha explicado o significado da música, e ela tenha um andamento calmo, eu cheguei a ter sonhos, um pouco macabros, envolvendo a "Lanterna dos Afogados". Depois de muito tempo, finalmente resolvi escrever um conto baseado na música, com a minha visão da canção.
Eu tentei escrevê-lo baseado em estrofe por estrofe, acrescentando detalhes que caracterizem cada uma delas, mas não necessariamente na ordem da letra.

Para quem não a conhece, segue a letra logo abaixo:

Quando tá escuro
E ninguém te ouve
Quando chega a noite
E você pode chorar
Há uma luz no túnel
Dos desesperados
Há um cais de porto
Pra quem precisa chegar
Eu tô na lanterna dos afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar
Uma noite longa
Pra uma vida curta
Mas já não me importa
Basta poder te ajudar
E são tantas marcas
Que já fazem parte
Do que eu sou agora
Mas ainda sei me virar
Eu tô na lanterna dos afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A alegria do palhaço é ver o circo pegar fogo

   
     Em meio a escuridão, uma luz brilhava, chamando toda a atenção para um único ponto da arena. Um homem, cruelmente preso, estava sob os holofotes, com uma expressão exageradamente feliz.
     Não, ele não era mais um homem. Sua metamorfose havia sido completa e agora ele estava aprisionado debaixo de todas aquelas cores e olhares, repetindo sua doce tortura diária. Aquele era o lugar de uma aberração e apenas daquele modo ele poderia ser aceito.
     Todos acreditavam estar prestigiando um grande espetáculo, com a alegria em seus olhos, se deliciando com a desgraça de um pobre servo do riso, sem ter nenhuma noção do que realmente estava acontecendo.
     Como eles não poderiam ver as sombras que andavam pelo picadeiro, sob seus pés e sobre suas cabeças? Era assim tão difícil enxergar os demônios que circulavam entre todos e sussurravam maldições e ordens?
     Sendo o único capaz de ouvi-los, ele estava eternamente preso naquele pesadelo que chegava durante as noites. Não importava a cidade ou o país. Para onde ele fosse arrastado, ele seria perseguido por aquela colorida tortura, forçando-o a fazer tudo novamente.
     Dia após dia, uma dose daquela droga era injetada em seu corpo. Ele se tornava dependente da sensação de euforia e do frenesi, das luzes e das cores que dançavam em sua visão, e do barulho e da música que tocava continuamente em seus ouvidos. Mesmo sentindo-se a ponto de explodir, seu corpo permanecia ali, incansavelmente agindo, como se ele não fosse mais dono de seus próprios movimentos.
     Em um momento ou outro, ele se feria ou feria um de seus pobres companheiros. Mesmo com toda a dor e melancolia, a multidão não conseguia perceber o que acontecia ali. Risos abafavam gemidos, lenços encobriam feridas e a sensação de desespero era ultrapassada pela energia que todos transmitiam.
     Era tão bom ver seus ignorantes rostos sorridentes. Aquilo era a única coisa que o mantinha em pé, mesmo que seu corpo não aguentasse mais. Ele amava a insanidade de toda aquela situação, o martírio de seu corpo e a corrupção de sua alma. Mas uma hora aquilo deveria acabar, não é mesmo?
     Não resta muito tempo, as vozes sussurravam em seus ouvidos e as sombras empurravam seu corpo e mostravam-lhe a verdade. Ele não poderia suportar por mais tempo e, caso não fosse libertado, seu espírito se perderia naquela arena. Sua única opção era procurar e alcançar a luz, mesmo sabendo que havia um preço a ser pago por tal luz.
     Ah! A luz! Sim! Ela era tão bonita! Ela envolvia o corpo daqueles que a encontravam, confortava com seu calor e os transformavam. A luz os devolvia para sua origem e trazia-lhes paz. Era dessa luz que ele precisava e estava prestes a colocar seu iluminado plano em prática.
     Enquanto ouvia os risos serem substituídos por terror, o palhaço viu pela última vez o circo pegar fogo.


     No dia seguinte, estampada nos jornais estava a terrível história da tragédia de um circo que pegou fogo, tendo como o único sobrevivente um palhaço, que foi visto fugindo da cidade com a insanidade estampada sobre sua maquiagem colorida.

   


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A Morte nunca Mente

     A manhã de segunda-feira havia começado de forma normal. Enquanto ouvia as notícias matinais pelo noticiário local, uma jovem prendia seus cabelos ruivos em um coque, preparando-se para mais um dia de trabalho.
     Na estação de trem, ela se encontrou com sua melhor amiga, loira, dois anos mais velha do que ela e menos bem-humorada. Elas haviam se formado juntas e hoje trabalhavam no mesmo hospital, como enfermeiras.
     Após chegarem ao destino do trem, andando as quadras que faltavam para alcançarem seu local de trabalho, elas começaram a conversar sobre suas expectativas para o ano que estava começando. A loira planejava juntar dinheiro para viajar pelo exterior, enquanto a ruiva apenas esperava ter sorte em sua vida amorosa. Uma era a razão, a outra o coração, como elas costumavam brincar. Uma impedia que a outra fizesse besteira por causa do exagero de uma dessas partes e, provavelmente, era por isso que ambas se davam tão bem.
     Enquanto caminhavam, uma velha mendiga sorridentemente as parou, se oferecendo para ler seu futuro em uma bola de vidro que ela carregava em suas mãos. Por sempre ter sido fascinada por assuntos místicos, a jovem ruiva concordou rapidamente, porem sua amiga a impediu por um momento.
– Esse tipo de coisa não existe! – ela alertou – É tudo uma farsa para conseguir nosso dinheiro.
     Desde que se conheciam, sua amiga sempre fora extremamente cética, sem dar qualquer chance para aquilo que ela não pudesse ter provas. Mas, dessa vez, a mais jovem não cederia e não abandonaria seu lado sentimental e esperançoso.
– Se você não acredita, o problema é seu – respondeu a ruiva. Então, ela se virou para a velha e sorriu amigavelmente – A senhora poderia me falar sobre minha alma gêmea?
     A jovem loira soltou um sorriso cheio de sarcasmo e revirou os olhos, parcialmente irritada com a crença e inocência de sua amiga. Mesmo assim, a ruiva a ignorou e esperou ansiosamente enquanto a velha mulher observava sua suposta bola de cristal.
– Eu vejo um jovem de olhos verdes – a mulher disse após um momento, parecendo concentrada em sua suposta visão. – Ou talvez castanhos. Seus cabelos são negros como a noite – ela parou por um momento, analisando o que via e mostrando confusão em sua expressão.
– Poxa, isso não parece tão ruim – a loira sussurrou para a amiga, com um sorriso malicioso nos lábios – Se você não o quiser, eu quero.
– Cale a boca – a outra jovem respondeu em um tom baixo – Deixe-me ouvir o resto.
     A vidente continuava concentrada, uma hora ou outra mudando sua expressão para surpresa, então confusão.
– Seu primeiro e último encontro será na rua e devo adverti-la que vocês não serão capazes de ficar juntos nessa vida. – a mulher profetizou, desta vez, tomando total atenção das duas moças em sua frente – A morte irá dirigir sobre seus destinos até que ambos renasçam.
     As duas jovens permaneceram encarando a mulher, esperando por algo mais, mas isso foi tudo que a velha disse á elas.
– Isso é ridículo! – a jovem loira protestou, irritada com as palavras da mulher. Ela sabia desde o começo que era uma perda de tempo e dinheiro ouvir previsões inventadas por uma velha louca – Eu te disse que era uma perda de tempo! Ela só disse asneira – ela se virou para a sua amiga ruiva, esperando que ela se pronunciasse.
     A jovem pareceu desapontada por um momento. Sendo uma romântica incorrigível, uma leve frustração a tomou, quem sabe por causa da previsão, ou talvez por causa da pequena dúvida que sua amiga havia plantado em sua cabeça sobre a veracidade do que aquela mulher havia dito. Ela pegou algumas notas de valor pequeno de seu bolso e colocou na mão da velha, dando-lhe um sorriso amarelo de desculpas e desapontamento.
     Durante o resto do caminho, e quando chegaram ao hospital, ambas não falaram mais sobre o episódio que havia acabado de acontecer. Seguindo os procedimentos padrões, enquanto ia de quarto em quarto, cuidando dos pacientes, a jovem ruiva percebeu que havia um homem sentado em um banco no fim do corredor, que parecia observá-la.
     Pensando que era apenas mais um acompanhante abatido, ela não ligou para a presença dele e continuou com seus afazeres, até o momento que ela percebeu que o homem não estava mais sentado no banco. Novamente, ela não deu muita importância para tal acontecimento.
     No final do expediente, o último paciente que ela foi checar era um senhor que havia sofrido um acidente de carro, estando se recuperando de várias contusões e fraturas. Ele raramente recebia visitas, mas dessa vez, havia alguém o acompanhando.
     O homem do corredor, um rapaz no máximo cinco anos mais velho do que ela, estava sentado em uma cadeira ao lado da cama do senhor acidentado, com uma expressão angustiada e preocupada. Quando a enfermeira se aproximou, ela se espantou por um momento, com diversas coisas passando por sua cabeça.
     O rapaz tinha heterocromia, com um olho verde e o outro castanho. Seu olhar, mesmo abalado por lágrimas que não caíam, era profundo e misterioso. Ao perceber a presença da jovem, ele passou a mão pelo cabelo castanho escuro e secou seus olhos úmidos, tentando se recompor. Ele olhou para a mulher com curiosidade, parecendo intrigado com algo.
     Ela, da mesma forma, começou a repassar tudo o que a vidente havia lhe dito durante a manhã, encaixando as peças do quebra cabeça que estava na sua frente. Seu coração batia de forma acelerada e uma pontada de esperança surgiu dentro dela, fazendo-a esquecer de qualquer parte ruim da previsão. Era ele?
     A partir daquele dia, o rapaz foi visitar o senhor, que ela descobriu ser o pai dele, todos os dias, até o momento que ele teve alta. Foi nessa ocasião que então ele finalmente chamou a jovem e simpática enfermeira para sair.
     Quanto mais o tempo passava, mais ela descobria coisas em comum entre eles. Mesmos gostos, mesmos hábitos e mesmos ideais. Eles não completavam um ao outro: eles eram o espelho do outro.
     Após quase dois anos, eles noivaram e estavam se preparando para uma nova fase de suas vidas, quando finalmente aconteceu.
     Em uma noite fria, eles estavam voltando de um restaurante, passeando pela rua quase deserta e apreciando as luzes de natal.  Ele a mantinha em seus braços, aquecida com seu casaco que envolvia os dois de uma só vez. Ambos riam a brincavam, falando sobre os planos para seu casamento e sua vida como marido e mulher, até que ouviram um grito.
     Em um beco, uma quadra de distância de onde eles estavam, uma senhora era agredida por um homem transtornado, aparentemente bêbado. Mesmo após pegar os pertences da senhora, o homem continuou a apertar fortemente seu braço e lançar ao ar palavras de insulto.
– Temos que ajudá-la – disse a moça, ao se aproximarem do lugar.
     Seu noivo apenas assentiu e caminhou em direção ao homem, agarrando-o pelo ombro e o afastando da velha mulher.
– O que você está fazendo? – o rapaz perguntou – Deixe-a em paz antes que eu chame a polícia!
– Você não tem nada a ver com isso – o bêbado respondeu, com a língua um pouco enrolada – Esse assunto é comigo e a velha bruxa. Se você ficar no meio, vai acabar se dando mal.
     O homem continuou entre o bêbado e a velha, pronto para lutar se fosse preciso. Porém, o homem embriagado sacou uma arma e, com uma pontaria quase impossível para o seu estado, ele disparou um tiro contra o peito do cara que o atrapalhava. Depois de perceber o que tinha feito, ele saiu cambaleando, sumindo por uma das ruas da redondeza.
     Desesperada, a mulher ruiva foi até o corpo de seu noivo, estirado no chão. Aquilo não poderia ser verdade. Não. Seu amado. Seu melhor amigo. A pessoa que ela havia escolhido passar o resto de sua vida ao seu lado, estava em seus braços, á beira da morte. Tudo acontecera tão rapidamente que ela mal conseguia raciocinar direito. Ela olhou para a velha, procurando ajuda.
– Faça alguma coisa! – ela disse histericamente – Chame uma ambulância, vá procurar ajuda! Por favor, nos ajude!
     A velha olhou para a mulher em sua frente com uma mistura de ternura e pena em sua face. Ela suspirou e sorriu gentilmente.
– Não há mais nada o que fazer, minha querida. Ele se foi. O destino está lentamente se cumprindo.
     Após ouvir as palavras daquela senhora, a manhã de tempos atrás voltou para a mente da mulher. “Vocês não serão capazes de ficar juntos nessa vida” ela se lembrou de ouvir a mendiga dizer enquanto previa seu futuro. Ela, por um momento, havia rezado para que aquilo realmente fosse uma invenção e, após certo tempo, ela se esqueceu, apesar de ainda acreditar que ele era seu predestinado.
     Olhando atentamente para a mulher, ela reconheceu a vidente que havia ditado seu destino, agora, com boas roupas e uma aparência melhor.
– Você planejou tudo isso, não é? – a moça perguntou para a vidente, apertando seus dentes e se segurando para não atacá-la – Isso era parte de seu plano ou maldição, não é mesmo?!
     A velha pegou sua bolsa que o bêbado havia deixado cair, e continuou sorrindo, com a mesma expressão em sua face.
– Eu não tenho o poder de escrever o destino, criança. Eu apenas o vejo ser cumprido e faço meu trabalho – ela explicou, começando a caminhar para fora do beco – Espero que seu espírito possa se conformar e encontrar paz – foram as últimas palavras que a velha disse para a mulher, antes de desaparecer nas sombras da noite.

     Depois de três meses, a moça sentia-se esgotada. Além de perdeu seu grande amor, ela enfrentou uma série de julgamentos e interrogatórios, enquanto a polícia procurava o culpado. Naquela tarde, ela havia voltado da delegacia, sem resultados animadores. Era bem provável que jamais capturassem o homem que havia matado seu noivo e nem mesmo a velha pode ser localizada. Alguns já levantavam a hipótese da moça ter enlouquecido com a morte de seu amado e inventado parte da história.
     Seus olhos pareciam mais pesados do que o normal, sua visão embaçava e seu corpo estava extremamente dolorido. Quando ela estava a algumas quadras de casa, um dos cruzamentos se tornou fatal para seu corpo fragilizado. Sem prestar a atenção, ela estava andando automaticamente, enquanto sua mente se perdia em lembranças e em ilusões do rosto da senhora que havia previsto seu futuro.
     Quando a moça percebeu a caminhonete preta se aproximando, já era tarde demais. Ela foi arremessada a metros de distância, e seu corpo permaneceu estirado no chão, da mesma forma que o corpo do seu noivo.
     Todos que estavam na rua viram com pavor a cena que aconteceu, se mobilizando para fazer algo. Um dos responsáveis pelo acidente fez a mesma coisa.
     Do carro saiu um homem com olhos avelã¹ e cabelos pretos, com uma expressão alerta e angustiada. Ele se aproximou do corpo da jovem, estirado no chão, com sangue saindo de uma abertura no topo de sua cabeça. Apesar das circunstâncias, seu rosto quase sereno pareceu, de certa forma, familiar para o rapaz. Inconscientemente, ele tocou sua face, quase ternamente, então deslizou seus dedos até seu pescoço, procurando pulsação. Nada.

     Nos dias que se seguiram, ele deu todo o apoio que pode para a família da mulher atropelada, assumindo as despesas com seu enterro. Daquele modo, talvez, uma parte da culpa que ele sentia em seus ombros seria extinta.
     Durante o enterro, enquanto observava de longe o caixão ser coberto de terra, o homem foi abordado por uma velha mulher, extremamente pálida, sob a luz daquela tarde cinzenta, e toda vestida de preto, com um simpático sorriso no rosto, fora daquele contexto melancólico.
– Não se preocupe – ela disse para ele, apoiando uma mão em seu ombro – Você a encontrará em outra vida. Eu cuidarei dela até lá.
     Após dizer isso, a velha foi embora, sem esperar qualquer reação por parte do homem.  Dispersas gotas de chuva começaram a cair do céu, molhando aos poucos as lápides cinzentas e a grama. Uma delas caiu no olho do rapaz, embaçando sua visão e fazendo-o limpar seus olhos com as mãos.
     Quando ele olhou novamente, a velha já havia desaparecido, levando embora seu sorriso e espalhando a sensação da morte por todo o local novamente.





¹Lembrando que olhos cor de avelã tem uma coloração que muda de acordo com a iluminação local, variando entre castanho e verde.

Obs: Ainda não arranjei um título decente para esse conto, quando eu encontrar um, irei editar essa postagem. 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A Síndrome de Camaleão

     Eu comecei a organizar as postagens do blog, colocando marcadores e, futuramente, editando as abas do layout, tornando mais fácil de procurar e achar determinado conteúdo. Tal situação trouxe a necessidade de pensar em categorias para dividir e classificar meus textos, o que acabou me dando uma ideia interessante.
     Tal ideia não me ajudou a organizar, muito menos arranjar marcadores para todos os textos, mas trouxe à tona a possibilidade de criar uma categoria para classificar as postagens sobre mim. Isso daria um impulso para mais postagens narcisistas, como uma já existente aqui no blog, e eu não vejo qualquer problema nisso porque... O blog é meu.

     Ultimamente, eu comecei a refletir sobre minha capacidade de mudar. É algo mais externo do que interno, mas isso, às vezes, gera algumas pequenas crises de identidade. Eu não consigo ter uma imagem totalmente formada de mim mesma e eu não sei se isso é bom ou ruim.
     Eu não costumo me limitar, seja em relação ao modo de me vestir, seja sobre as músicas que eu escuto ou sobre os hábitos que eu tenho. Por causa disso, eu não consigo enxergar o futuro como as pessoas normalmente fazem. Eu não consigo definir o que possivelmente acontecerá, nem com quem, como e onde eu vou estar. Isso não é algo ruim, porém é estranho ter essa incerteza.
     Eu tenho a síndrome do camaleão (não, não estou falando sobre a Síndrome de Zelig), me ajustando ao cenário e ocasião, mas, ao mesmo tempo, me perdendo entre um contexto e outro.

     Novamente uma imagem com justificativa para a postagem, e também uma carta de tarô: O Arcano XIV, a Temperança.
     Entre os vários possíveis significados dessa carta, está o equilíbrio, a flexibilidade e a desordem. Esse Arcano em si é um pequeno e contraditório resumo dessa minha situação.
   
     A Temperança é, talvez, o que torna minha personalidade tão peculiar, mas, ao mesmo tempo, é o que torna tudo isso tão confuso.


sábado, 18 de janeiro de 2014

A Rosa Artificial

       
      Há algum tempo, havia uma jovem de corpo e de alma, que sentia nojo da existência humana. Nojo de sua própria existência.
     Afinal, poderia existir algo mais imperfeito e corrupto do que a vida humana?
     Preocupados com coisas triviais e, constantemente, um passando por cima do outro. Mantendo em pé o orgulho de uma perfeição e de um poder inexistente. Matando uns aos outros por trás de máscaras que repudiam o sangue e a violência. Comandados pelo tempo, planejando uma rebelião que nunca acontecerá. Perdendo seus sonhos pelo caminho, esquecendo-se de sua essência e de quem foram um dia.
     O ser humano acredita ser tão perfeito e poderoso. Eles podiam explodir montanhas, construir fortalezas, cruzar os mares e sobreviver ao ataque de grandes bestas. Ainda assim, eles precisavam, dia após dia, se concertar, reparar e fazer manutenção em seus corpos, caso contrário, eles apodreceriam, adoeceriam, falhariam e morreriam. Eles poderiam vencer todas as pragas, menos a Morte.

     Tomada por um ódio que crescia e por uma vaidade que florescia, a jovem cometeu o erro de almejar a imortalidade e a beleza eterna.
     Assim, ela poderia manter a única coisa pura em seu corpo: sua face angelical. A face que encantava muitos, que a abençoava e a amaldiçoava ao mesmo tempo. A face que trazia oportunidades para sua vida e corrompia seu corpo e sua alma. A face que lhe dava esperanças e arrancava-lhe seus sonhos.
     Jogada em um obscuro mundo, sem ninguém para fazer-lhe companhia além daquilo que seu corpo e seu rosto podiam comprar, ela se afogava no desespero a cada dia que passava.
     Ela perdia-se entre lençóis com aqueles que a visitavam, em troca de dinheiro, e entre devaneios sobre coisas que ela sempre sonhou em ter, almejando possibilidades que eram demais para apenas uma vida. Demais para a sua vida.

     Em uma fria noite estrelada, durante o outono, enquanto vagava pelas ruas escuras, sem propósito nem esperanças, um homem a parou. 
     Seja qual for sua proposta, eu recusarei, ela pensou, esperando um momento de paz naquela noite. Ela estava cansada de viver daquele modo. Ela estava cansada de viver. Se aquele estranho portasse uma arma, ela aceitaria com prazer o convite para dançar com a morte.
      Quando o homem tirou seu chapéu, ela percebeu que ele tinha uma beleza tão incrível quanto a dela. Seus olhos vibrantes a enfeitiçaram e ela perdeu sua noção por um momento. 
      Sem tocá-la ou mostrar ter qualquer outra intenção, o jovem estendeu-lhe um botão de rosa, de um puro branco. Seu cabo tinha pequenos espinhos, suas folhas eram incrivelmente perfeitas e verdes e as pétalas pareciam macias e suaves.
     Pela primeira vez em muito tempo ela havia achado algo e alguém que a fascinava do mesmo modo que seu reflexo no espelho. 
     Ainda em seu transe, ela involuntariamente estendeu a mão para pegar a flor, alcançando a rosa e segurando entre seus dedos, sem tocar no homem. 
     Ele sorriu, colocou novamente seu chapéu e continuou a andar, pelo caminho que a jovem veio.
     Intrigada com tal presença ela se virou e tentou alcançá-lo, querendo saber sua identidade.
     "Quem é você?" ela perguntou para a figura que se distanciava cada vez mais.
     O homem continuou andando, mas levantou seu chapéu "Eu a verei em breve" a moça pode ouvir, como se ele estivesse falando próximo ao seu ouvido. 
     Por algum motivo, ela simplesmente continuou caminhando para casa, com a rosa assegurando-a que ela o veria novamente.

     Algum tempo se passou, a primavera havia chegado e a jovem começou a notar que sua beleza se acentuava cada vez mais. Prometendo respeitar mais seu corpo, ela havia parado de se vender por dinheiro. Ela tinha atingido o auge de sua juventude, porém sabia que uma hora aquilo acabaria. A jovem estava ciente de que sua beleza não era eterna e que aquela sede de viver, que aquele homem havia despertado nela, naquela noite de outono, uma hora também cessaria. O tempo havia passado e a promessa dele ainda não havia sido cumprida. A única coisa que a impedia de pensar que aquilo tinha sido um sonho, era a rosa, que continuava exatamente do modo que ele havia lhe dado. Todas as flores das redondezas haviam desabrochado, e aquelas com uma vida efêmera já morriam aos poucos, porém a rosa continuava intacta. 
     No meio da estação, um estranho e sombrio homem bateu na porta de sua casa na periferia da cidade. Vestindo trajes negros, mas extremamente finos, ele trazia um convite. Ele falou para ela que seu mestre queria vê-la e que ela encontraria todas as explicações no papel dentro do envelope.
     Por um momento, a jovem se sentiu constrangida por nunca ter aprendido a ler e não saber o que fazer naquela situação, mas algo no convite chamou sua atenção. Haviam rosas, desde seu selo, até a moldura do papel. Só poderia ser o homem que a parou aquele dia. Ela precisava saber quem ele era e tinha a sensação de que ele poderia causar uma grande mudança em sua vida.
     Após pegar a rosa, ela permitiu que o criado a conduzisse até uma antiga construção. 
     A mansão tinha um grande jardim, com todos os tipos de flores que ela jamais havia imaginado que existiam. Próximas da passagem, havia uma infinidade de rosas vermelhas, acompanhando o caminho até a porta da mansão. A decoração no concreto ao redor da porta e das janelas era absurdamente detalhada, feita por verdadeiros artistas. 
     O cenário parecia parte dos sonhos da jovem, cheio de luxo e requinte. O interior da mansão a surpreendeu mais ainda, com a riqueza e refino presente nos móveis e na decoração. Peças de ouro e madeira nobre decoravam as inúmeras salas e corredores do lugar. Quanto mais ela era guiada pelo estranho homem, para o coração da construção, mais ela se sentia encantada.

     Após percorrer por diversos cômodos, o homem a deixou sozinha, em frente a uma grande porta de madeira, entalhada com rosas. 
     Por um momento, o medo tomou conta da jovem e parecia que ela não deveria estar ali. Seu coração batia de forma acelerada e suas mãos e pernas tremiam. A luz parecia diminuir, as sombras caíam sobre ela e um frio impossível para a época atingiu seu corpo. Quando ela estava quase entrando em desespero, as portas se abriram. 
     No quarto, quase totalmente vazio,  haviam duas poltronas na frente de uma lareira acesa. O fogo queimava fortemente, lançando faíscas para fora, em um momento ou outro, atingindo o chão de madeira negra e as paredes cor de sangue. A jovem reconheceu o homem que lhe deu a rosa sentado em uma das poltronas, apesar de ele estar virado para a lareira e com parte seu rosto deformado pela luz do fogo.
     "Não tenha medo" ele disse, fazendo sinal para que ela se aproximasse e ordenou "Sente-se."
     Ainda com receio, ela caminhou lentamente até a poltrona vazia, quase de frente para o homem. Ela o observou novamente, sem saber como reagir. O jovem na sua frente era extremamente belo, com olhos de um dourado tão vibrante que poderia ser amarelo. Ele tinha a pele pálida e cabelos escuros, cuidadosamente presos com uma fita escarlate. Sua roupa era extremamente luxuosa, com bordados feitos a mão e detalhes caros demais para o conhecimento dela. 
     Ao notar que ela estava com a rosa nas mãos, ele abriu um sorriso extremamente encantador e fez novamente um gesto para que ela se sentasse. Com seus músculos rígidos, ela obedeceu ao comando e se sentou extremamente ereta, apoiando a flor em seu colo. 
     "Você é muito parecida comigo" ele estreitou os olhos, repousando sua cabeça sobre sua mão. Seu cotovelo repousava no braço da poltrona e ele parecia extremamente relaxado. "Você tem a beleza de um anjo, com o corpo pecador de um demônio".
     Uma série de dúvidas passava pela cabeça da jovem e ela se sentia cada vez mais assustada pelo fato dele parecer conhecê-la. "Quem é você?" ela repetiu a pergunta de tanto tempo atrás "O que você quer de mim?"
     O homem voltou a sorrir, parecendo extasiado pela reação da jovem. "Você deve responder essas perguntas para mim primeiro. Após sua resposta definitiva, eu poderei revelar quem eu sou. Agora me diga: Quem é você? O que você quer da sua vida? Você realmente é quem você é? Você tem a vida que gostaria de ter?"
     Ela podia notar que ele já sabia todas as respostas para essa pergunta. Ele não havia feito o convite por acaso ou por causa da beleza dela. Extremamente confusa, ela se manteve em silêncio, encarando o homem na sua frente.
     "Eu tenho te observado há muito tempo" ele explicou. "Vejo em seus olhos a ânsia que você tem por uma vida que jamais será do seu alcance e vejo em seu corpo marcas de um mundo que não foi feito para você. Eu a trouxe aqui para fazer uma proposta. Uma troca". Ele permanecia encarando a moça com seus intensos olhos, parecendo enxergar algo além do que poderia ser visto "Eu lhe darei qualquer coisa em troca se você concordar com um pedido meu"
     A jovem ponderou por um momento, tentando prever as intenções daquele homem. "Eu não faço mais isso" ela respondeu "Eu prometi a mim mesma que jamais voltaria a vender meu próprio corpo."
     Uma gargalhada saiu dos lábios do homem, que parecia se divertir com a situação. Ela ficou ainda mais confusa com sua reação e o olhava com curiosidade.
     "Eu não quero seu corpo. Eu quero sua alma" ele respondeu. Seu tom de voz era normal, impedindo que ela decifrasse se era uma piada ou não. 
     Seu pedido não a surpreendeu. Na verdade, o que a surpreendeu for por ele preferir sua alma ao seu corpo. "Você me daria qualquer coisa por minha alma cinzenta e perdida?" ela perguntou para ele.
     "Qualquer coisa" os olhos dele pareceram brilhar mais ainda. 
     Novamente ela se perdeu em pensamentos, indo a fundo em suas memórias do que aconteceu e deixou de acontecer em sua vida, procurando por seus mais profundos desejos. A família que ela nunca teve? Os amores que ela jamais conseguiu viver? A situação financeira e social favorável? A vida digna e limpa, sem precisar sacrificar seus sonhos?
     Enquanto procurava por algo, seus olhos pousaram sobre a rosa em seu colo. A bela e imutável rosa branca. Ao olhar para a flor, algo acendeu dentro de si. “Eu quero ser como essa rosa” ela disse com convicção “Imutável. Eternamente jovem, eternamente bela.”
      "Você tem certeza disso?" o homem perguntou "Uma vez que o acordo estiver selado, ele jamais poderá ser desfeito."
     A jovem assentiu, sentindo uma coragem que jamais havia sentido dentro de si. Sua vida já não tinha muito significado, qualquer coisa que acontecesse nela, faria uma diferença significante, resultasse isso em sua felicidade ou em sua morte. Ela não tinha nada a perder.
     O homem se levantou, caminhando na direção dela e pegou uma de suas mãos, se ajoelhando em sua frente. Ele entrelaçou sua mão com a dela, com o cabo da rosa entre as duas palmas. Rapidamente, sangue começou a escorrer pelo pulso dos dois, com os espinhos ferindo ambas as mãos. Ele beijou o dorso da mão dela e sorriu "Está feito. Quando essa rosa, testemunha desse acordo, se tornar vermelha, eu retornarei para buscar sua alma." 
     Ao soltar a mão dele, a jovem observou as feridas que haviam sido feitas em sua palma. Como mágica, elas começaram a se curar e em questão de segundos elas haviam sumido. "Isso é incrível! Quer dizer que..." ela olhou para o quarto, mas o jovem se fora. 
     Nas horas seguintes, a moça dedicou seu tempo a andar e explorar a mansão, procurando pelo homem ou pelo criado, mas nada encontrou. Ela havia sido deixada naquele lugar, com uma oportunidade de começar sua vida eterna. 
     
     As riquezas que ela encontrou na casa permitiram que ela comprasse um título, um novo padrão de vida e pessoas que a servissem. Ela passou a viver entre as sombras da sociedade, mas com liberdade para visitar e conhecer todos os lugares que desejava, obter tudo o que tivesse vontade e conhecer todo o tipo de pessoa. Sem a limitação do tempo, ela estudou, obteve conhecimento sobre as mais diversas áreas e se tornou uma verdadeira dama.
     Assim, as Eras passaram, a sociedade mudou e os hábitos também. Ela mantinha a noção do tempo de acordo com o período de trabalho de seus empregados. Nenhum passava mais de cinco anos dentro da mansão, ou suspeitariam sobre ela. Ela conheceu diversos homens, que agora se vendiam pelas riquezas dela, mas nunca foi capaz de realmente se apaixonar ou se apegar a qualquer um deles e, por algum motivo, o seu brilho e beleza não parecia mais chocá-los. 
    De algum modo, tudo aquilo que ela pensava que a traria felicidade, não era capaz de preencher o buraco que ela sentia em seu peito. Então, ela resolveu procurar a rosa, esperando encontrar respostas.
     Temendo ter seu segredo descoberto, ela havia trancado a flor e o convite do homem na sala onde fez o acordo, proibindo qualquer pessoa de se aproximar dela. Àqueles que tocassem na rosa seria revelada a verdade daquele dia em que ela havia selado seu destino. Ninguém poderia saber sobre o que ela tinha feito, levando-a a fazer qualquer coisa para proteger o segredo.
     Enquanto caminhava até o coração da casa, ela sentia calafrios passarem por seu corpo. Durante todo esse tempo, ela havia evitado andar por aquele caminho, tentando ignorar as lembranças daquela noite. Algo no ar estava pesado, como se alguma coisa estivesse prestes a acontecer caso ela entrasse novamente naquela sala. 
     Ao girar a maçaneta e empurrar a porta, ela viu uma pequena forma perto de uma das poltronas. A jovem empregada estava com os olhos arregalados, com a flor branca em suas mãos. O vaso em que a dona da casa havia posto a flor, estava quebrado, com seus cacos espalhados em frente a lareira. 
     A garota estava imersa em uma jornada dentro de sua mente, incapaz de ver a mulher entrar na sala e se aproximar. O terror invadia ambas, com as imagens que eram vistas e com os pensamentos do que poderia acontecer. Uma tirou a rosa das mãos da outra, despertando-a de seu transe.
     "Você vendeu sua alma" acusou a empregada, trêmula e receosa. "Você não é mais humana!"
     Não havia tempo de perguntar como e porque ela havia entrado ali. Provavelmente ela era uma criada nova, sem informações sobre as regras da mansão. Agora, ela não temia mais ser despedida, e sim ter sua alma levada como a de sua patroa.
     "As coisas não são como você está pensando" disse a mulher, de forma fria, observando a jovem garota na sua frente. Algo em sua expressão lembrava a garota que ela costumava ser antes de entrar naquela casa. Ela se aproximou mais da jovem empregada, segurando seus ombros.
     "Não toque em mim, sua pecadora!" a jovem recuou "Eu não deixarei que você leve minha alma também!" ela segurava o pequeno crucifixo que pendia de uma corrente em seu colo.
     A mulher mais velha tomou iniciativa. Se ela não fizesse algo, tudo o que ela havia conquistado seria perdido. Se alguém descobrisse seu segredo, ela temia que pudesse sofrer consequências por causa do trato. Não seria uma jovem ingênua que acabaria com tudo.
     Em um ato de desespero, ela pegou um dos afiados fragmentos do vaso que estava caído no chão. Segurando a garota, ela cortou sua garganta, impedindo que ela fugisse e revelasse seu segredo. O sangue da empregada jorrou de seu pescoço, tingindo tudo que estava em sua frente. A rosa, que também estava caída no chão, teve o seu branco-puro substituído pela cor escarlate do sangue daquela inocente. 
     Derrubando sua arma e o corpo da garota no chão, a mulher correu para pegar a rosa, desesperada com o que via. Ela permaneceu ajoelhada no chão, com a rosa em suas mãos, olhando para o nada. 
     Uma corrente de ar invadiu as janelas, passando pelo seu corpo e acendendo a lareira. 
     A mulher começou a gargalhar freneticamente, de um modo que nunca tinha feito em todos esses anos. Enquanto ria de sua desgraça, seus olhos liberavam lágrimas de arrependimento por todas as vidas que ela havia vivido. 
     "Você planejou isso desde o início, não é?" ela perguntou para a sala. Ao levantar e se virar, ela encontrou o jovem homem sentado na outra poltrona.
     Ele sorriu para ela e estendeu o velho convite "Estava escrito aqui, o tempo todo."
     Ela segurou o envelope e o abriu, finalmente capaz de ler seu conteúdo.

Sangue é a chave da imortalidade. 


      A jovem de corpo, com a alma corroída, sorriu, em um momento entre a loucura e a conformação. Ela se levantou e caminhou até o homem sentado na poltrona, pronta para seu destino.
     "Eu só tenho mais uma pergunta" ela disse a ele "Porque durante todo esse tempo, eu não pude ser feliz?"
     O homem se levantou e tomou a rosa de suas mãos, apertando-a e mostrando como ela não desmanchava com seu bruto toque.
     “Essa rosa não é uma rosa comum, caso contrário, ela morreria normalmente. Ela é uma rosa artificial, imutável e eternamente bela como você desejou ser. Rosas artificiais não têm perfume. Elas nunca desabrocharão e jamais darão continuidade a sua linhagem” ele envolveu a mulher em seus braços pronto para levá-la. "Sua alma não é o único preço quando se faz um acordo com o Caído."

     Naquela noite, o corpo de uma jovem foi encontrado na mansão. Sem vestígios do culpado por seu assassinato, apenas foi encontrada a arma do crime e duas rosas vermelhas próximas do corpo da vítima.   

Por um mundo com mais cartas de amor e menos status de facebook

     Eu me sinto extremamente antiquada pensando desse modo, mas onde foram parar as verdadeiras demonstrações de amor?
     Eu não sei se elas foram extintas, evoluídas ou confundidas, de alguma forma, mas foram gravemente afetadas.
     Não, falar "Eu te amo" mil vezes em um mesmo dia, jogar mil elogios ao vento (ou à internet) e não largar do pé da pessoa "amada" não é romântico. Contraditório? Talvez.
     Eu sempre achei que era uma pessoa nada romântica, mas pensando de tal forma e relevando meu lado antiquado eu finalmente entendi que o romantismo que muitos jovens se referem hoje em dia é bem diferente do que eu acredito.
     Eu sou a favor de um mundo com mais cartas manuscritas e menos status de facebook. Mais declarações com músicas e menos indiretas, usando-as, no mural. Mais momentos aproveitados do que fotos no instagram. Por mais sentimento, menos exibicionismo e menos artificialidade.
     Mais romantismo e menos melosidade. Afinal, uma palavra não precisa ser sinônimo da outra.

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